terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Nas linhas da mão

Enredam-se tecidos de palavras. Cada tecido tem um tom, uma textura. Estendo-os sobre a cama, gosto de ver os afectos tangíveis. Cada tecido, cada prosa, cada letra, apenas conduz a uma outra palavra que se enrola numa curva de frase perfeita. Tal que o sorriso apenas podia ser este: cheio, pleno, ternurento, indizível. É neste labirinto de aromas e toques que me deixo adormecer. Pode ser que o sonho, o que seduz a paz, me lembre do tempo em que a aspereza da saudade se infiltrava. Mas hoje, enquanto me visto em frente ao espelho, qualquer pano me faria sorrir. É a suavidade das horas que sorriem e escorrem partilhadas.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

supermassive black hole

Os corpos caem. É a lei. Matemática e física, puras, duras, concretas e abstractas, os corpos caem. Hoje não por gravidade, mas por cansaço. 
Enquanto me diluo no percurso, penso em ti. Em como guardas tantas páginas rasgadas dentro do baú. Em como volta e meia, as tiras cuidadosamente e as estendes com as palmas das mãos, apenas para ficares a olhar, como se te aquecessem o coração. Não entendo como te deixas surpreender pelo frio que faz nas entrelinhas. Estimas o passado como se fosse mais do que é: passado. Na ânsia do presente, quase que atiras a tampa do baú com tanta força que o som abafa qualquer pensamento. E é o eco da memória que te tira o cuidado no presente. O presente é apenas isso, também apenas isso: um momento. Dizem-te para decidir: fugir ou ficar, e tu ficas e vais, um dia no presente, umas horas no passado. E com isso pintas as páginas de sal que não entendes, de decisões que não são tuas, de carcereiros, de príncipes encantados, e nós, os espectadores, caímos. De cansaço. Chego a casa, e penso em ti. A espreitar pela janela e a fitar o tecto frio. Tanto ruído que o silêncio faz na tua cabeça. Tantos rostos que te olham colados no tecto. Menos o teu.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Desafios


... daqueles que eu nem sou muito de fazer. Segue: uma foto individual, a escolha de um artista ou uma banda, e responder às questões com músicas desse artista ou banda.




E quanto às músicas, serão do Jorge Palma.
És homem ou mulher? Disse Fêmea
Descreve-te. Cara D'Anjo Mau
O que as pessoas acham de ti? Na Terra Dos Sonhos
Como descreves o teu último (antes do actual) relacionamento? Isto Aconteceu
Descreve o estado actual da tua relação amorosa. Viagem Na Palma da Mão
Onde querias estar agora? Voo Nocturno
O que pensas a respeito do amor? The Nine Billion Names of God
Como é a tua vida? Sem Passaporte
O que pedirias se tivesses um só desejo? Deixem Voar Este Sonho
Escreve uma frase sábia: Missa dos Pássaros

E quanto a passar o desafio, bom, ao ZM, à Mo, ao Nuno Tremoço e ao Mix. 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

28

abraços beijos cócegas e chapéus dias e demandas encontros e esperas fins e fugas e figuras gomas horas ímpetos jogos luares manhãs e mares noites outonos praias e pipocas quedas e questões respostas e risos sonhos e subidas travessias únicos véus e vulcões xis zénites

terça-feira, 25 de novembro de 2008

De vez em quando ...

... tenho um vazio. É só assim de vez em quando, como um espinho que nos recorda que nada existe em absoluto. Curiosamente, ainda hoje desfiava sabedoria sobre o aconchego do abraço que se ama e de como esse abraço nos rouba palavras cruas. Só para mas cravarem na carne e me fazerem recordar um obsoleto vazio de sentido de decisões. 

... sinto-me um nada a ser disparado a velocidades indizíveis, inundada por uma vertigem quase dormente. Como se implodisse e ninguém estivesse lá para ver, qual filme mudo com risadas sobrepostas.

... sou o nada e o vazio, tremendo num escuro denso. É só por isso que a "luz lá fora" me fascina. 


"Passas a vida a adiar" 
Tanto, mas tanto, que queria não mais adiar... há portas que temos de encostar sem medo do vento que as fecha. Poderíamos abri-las sempre... 

"Mas afinal o que queres tu da vida?"
E pudesse eu dizer-te, simplesmente, que apenas a queria viver como minha...


... queria desnascer.

domingo, 16 de novembro de 2008

Back home

Com um sorriso entre duas mãos, um ombro latejante de ternura e uma fonte chamada infinita. Regresso. Casa cheia, eterna, magnífica. E as mãos, envoltas em teias invisíveis de uma inexplicável mas tangível paz. Regresso, contigo, e abro-te a porta de um mundo que já foi o meu, e onde me sinto em casa. Sê bem-vindo...

domingo, 9 de novembro de 2008

Hoje preciso de um pois, hoje preciso de um sim

Pela primeira vez não corri para ti. Não apressei o passo na tarde que escorria sob os meus pés enquanto o meu coração se apertava por te pensar esperando. Deixei fluir a tarde e o fim do sol pela música que se aninhava no meu ouvido. Precisava do branco dos reflexos do sol nos painéis publicitários, do burburinho da multidão esvoaçante, dos semáforos lentos e compassados. Precisava de mim. Sem mim não entendo como podemos ser dois sendo um. Pela primeira vez tive medo de ti. Um medo de não ser, a minha palidez consome-me quando te amo. E não sei não te amar. 
Chegas e beijas-me a mão. Um beijo chega, as minhas tardes rejuvenescem. És a tarde. A folha de outono que pousa na minha mão, o sol de inverno que me beija o pescoço. Efémero. Um café, uma banda sonora. Todas as cores num segundo. A calma certa, a dor anunciada de uma despedida. A mesma. A nossa. Onde nada faz sentido. Onde trilhos separados se unem apenas para sempre se quererem. Ouso esquecer a dor e mergulhar, mas o medo, esse medo ... 
Pela primeira vez, não me viste partir e a tua mão não se encostou na minha pelo outro lado do vidro embaciado. Disse-te adeus enquanto te perdias num vazio a que chamei medo. 

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Pela manhã

Acordei com o sol a aquecer-me o rosto. Estiquei o braço por entre os lençóis para chegar a ti, esquecendo que não estavas cá. Voltei a recolher o braço e enrosquei-me para tentar entrar novamente num sono a dois.
Bom dia, sorriso. E permanece a saudade de partilhar espaço e tempo contigo, no calor das mãos e na ternura que nos abraça.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Cada dia

que passa traz um jogo de luzes e sombras diferente. O frio lá fora esconde o aroma da ternura quente. O frio entre as paredes das novidades chega aos ossos, mas o teu sorriso arma esperança e não arreda enquanto não me contagiar. E cada dia que somamos a uma história insana, mas puramente imperfeita, desponta um sol algures. Uma bolha de sabão mais duradoura, um abraço mais apertado, um amor mais profundo e intenso, uma chama mais brilhante. A sombra esguia de uma maçã na tua mão, o toque inebriante no meu braço, e o sentido de todas as engrenagens que se desorientam no mesmo momento que os ponteiros de todos os relógios param.

que passa é uma soma ardida de números. Ainda assim, sempre assim, é para ti que os ramos fortalezas se dobram. Hoje, mais um número que somas. Mais um dia que te espero. Mais um, de tantos, de poucos e muitos. De asas entrelaçadas, peito aberto ao futuro, negro esfumado ou paleta brilhante. 

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Meu sonho tem boca, que o digam meus olhos ...

... que em todas as horas, houve um tempo sem mentira. Sem nós por desfiar. Permaneço, enquanto bebo as tuas palavras e quase que me engasgo. Eu, que compunha cores pensando que mais ninguém as via, que trauteava melodias que julguei inaudíveis. Eis-me, eu, aqui, sentada à porta dos dias, saboreando a brisa das horas que decorrem entre um abraço e um beijo, entre uma maçã partilhada e um aconchego. Quem sabe o medo é minha cruz, quem sabe o medo é meu motor, quem sabe o medo é luz. 
Encontro a calma, o fumo adensa-se no espírito e flutuo longe, abro a viagem à deriva, estendes-me oceanos de pele para percorrer, enrosco-me no quente do teu peito para sentir o teu coração. Vives. Vivo. 

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

It takes a road to go nowhere ...

Cabes no meu peito. Estendes-me palavras, das tuas, das de outros. E dá-me um acesso de melancolia, de entrar nos teus braços para deles não mais sair. Ponho-me a ouvir o Mestre, A Gente Vai Continuar, e sei de cor quanto vale um beijo teu, uma carícia presa entre fugas. Saboreio essas palavras, O'Neil as diga, tu mas sussurres, e eu que te ame por cada peça que se encaixa.


Há palavras que nos beijam como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas.
Quando a noite perde o rosto
Palavras que se recusam,
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas,
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas,
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte. *

Todo tanto tamanho mundo que encerramos num sorriso. Numa espera que se torna longa por segundos excessivos e travessos. Sabes-me a vida, a cor, a noite, a melancolia segura. A chocolate, a café de aromas, a hortelã, a licor, a saudade, a torradas de manhã, a sumo de laranja, a banda desenhada, a vertigem. És a primeira imagem da manhã, és a última companhia da noite e encarnas o sonho que me vela em cada sono.

És o meu mar. Eu, a tua estrela.


* Alexandre O'Neil
[e tu]

domingo, 19 de outubro de 2008

Entre becos e túneis

Desces com as tuas mãos de luz sobre as minhas pálpebras e o calor invade o meu espaço de terra. Abres a porta do sorriso e pedes que entre, que fique, que conheça e reinvente cada espaço teu. Esse teu espaço que abri sem querer enquanto as cortinas esvoaçavam e eu espreitava.
A minha mão fica, presa ao calendário sem dias, fiel ao teu sorriso e ao teu desembaraço. O corpo segue a alma que se encontrou numa parede e num chão. Ou numa qualquer esquina. Não temos bússolas, mas encontramo-nos num mar de gente. Pelo cheiro, pelo toque fugaz e electrizante, pela pele que nos pertencia sem sabermos.
Tenho sede das nossas noites sem estrelas ...

domingo, 12 de outubro de 2008

sento-me no chão do pensamento, cruzo as pernas e escuto a incerteza ...

Todos os dias aparecem-me umas nuvens no queixo. Umas dores no pulso ou uma cicatriz no umbigo. Todos os dias o meu ego perde brilho.
Desta vez o meu medo tem medo de ser. As horas persistem escuras como tinta esborratada num papel numa linguagem química que talvez Hipócrates entendesse: eu não. E planos e projectos reorganizam-se mentalmente, tento hierarquizá-los, subjugá-los à minha vontade de viver e de aprender o que é, de facto, essa vida, para além das tarefas que nos propomos todos os dias. Que fariam sentido sem sentido. Num longo prazo que é sempre mais curto.
Neste ponto, neste ponto preciso, nada faz sentido e tudo se enevoa na espera de uma data que trará algo. Uma certeza, um aperto, um suspiro, um ombro. Um medo, mas esse já chegou e conquistou para si a casa. Tenho frio. Doem-me as entranhas tal é a violência da espera. Dói-me a língua tal é a dureza das palavras. Dói-me tudo e preciso de tudo para ver uma luz.



(e é de braços descaídos que vejo o sol desaparecer)

domingo, 5 de outubro de 2008

...todos as horas fossem essas...

Parece um brilho que escorre.
Damos por nós a falar num futuríssimo a haver. Cães, gatos não. Enrolados em algodão. A ver o verde a entranhar-se-nos no cabelo e entre os beijos, um dourado lavado a roçar-nos a testa.






Fossem meus os tecidos bordados dos céus,
Ornamentados com luz dourada e prateada,
Os azuis e negros e pálidos tecidos
Da noite, da luz e da meia-luz,
Os estenderia sob os teus pés.
Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.
Eu estendi meus sonhos sob os teus pés
Caminha suavemente, pois caminhas sobre meus sonhos.


(Yeats [and you])






[eu tinha aberto o blogger para traduzir toda a imensidão que trago em mim... esgrimir palavras bonitas e imperfeitas, tentar reproduzir de forma parca toda esta suavidade impetuosa... e chegas tu e atrvessas letras no caminho que percorro ... o meu eu reduz-se a uma contemplação e um sorriso]

Às vezes lembro-me de ter medo ...
tenho um medo não sei do quê.
Penso que as palavras podem pesar,
que os olhos podem cansar e os cheiros desvanecer.
Nessas vezes, sento-me no conhecido canto da escuridão
onde o cheiro a só se entranha
e o silêncio ecoa nas rugosidades da alma.
Restos a persistir na esquina.

sábado, 20 de setembro de 2008

Silêncio

... e de repente sinto-me microscópica, invisível. O tumulto persiste e eu quedo-me num vazio desconhecido. Tão abrupta a queda que nem reparo nas cores que escorrem.
Algures, sei-te nesse chão temido, a almofadares a minha queda, a torná-la apetecida, confortável, amena. Algures num silêncio quente.
E é assim, que no desconforto da minha pequenez, temo os teus braços e o teu olhar, trazendo em ti a plenitude do teu sorriso. Escondo o medo no recanto mais claro que tenho, a ver se seca, morre, e cai. E no dia em que o desmascarares, esta queda terá fim, aterrarei suavemente no tapete que me estenderes, levantar-me-ei, e saberei que o que o silêncio esconde no seu casulo infindável.
(cinzenta ... há dias em que me vejo cinzenta, são os dias em que a tua gargalhada efusiva me falta como se de ar se tratasse, e é nesses dias que o tempo não flui, os minutos são blocos de granito que não encaixam, e as horas acumulam-se no meu peito a lutar entre si)

sábado, 13 de setembro de 2008

Nas entrelinhas

Na minha cabeça consigo ordenar as palavras e dar-lhes sentidos únicos e ímpares. E tudo se compõe e alinha numa perfeição indizível, como as contas de um fio imaginário, habilmente manuseado por mãos que não as minhas pequenas e secas mãos. 
Nessa história, um qualquer vestígio de inverno é apagado pela brisa de outono que emana dos olhos quando sopras para que o mundo continue a girar. Todo a brisa é tua, e os teus braços sustentam o nosso mundo onde a chuva é quente e doce, onde o sol beija cada passo na calçada, onde somos crianças e tudo tem o brilho das manhãs de fim-de-semana passadas em frente aos brinquedos que tínhamos, onde amar passa por muito mais que a partilha da carne, em que somos um sendo tantos mais. Somos o toque que amamos e tocamos o que amamos. 
Somos a leveza. Somos o sorriso imenso. És o meu ponto de chegada, em mim.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Amanhã ....

O texto que se segue não foi escrito por mim. Não tenho, e duvido que venha a ter, a capacidade de transportar tanto dentro de mim traduzivel em tao poucas palavras... Mas completa-me saber que foi escrito para mim, num misto de saudade e desejo que ganha asas e traz calor...

"és rio que inunda a curiosidade, leito que abandona flor, desfecho perdido no horizonte encerra a passagem num talvez, pergunta a palavra ao solo disposto, espelha o sorriso de um oceano escondido"

terça-feira, 9 de setembro de 2008

...

Está feita a mudança.

Anos velhos e a cheirar a mofo, a saudade, a sal, a tudo o que não existiu... anos passados do lado errado do coração.

Every new beginning comes from some other beginning's end...