segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Derivadas

... de caminhos que não faço, as minhas saudades sobejam de qualquer chuva que pudesse restar neste canto despido ...
... desta inconstância que ferve dentro deste corpo, recuso prender os pulsos a outra imagem que não a tua, a outro toque que não o teu, a outro cheiro que não o que me invade quanto o pensamento voa para o aconchego nu dos teus braços ...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Urbanidades

Desço de mim. A luz caótica fere a dança das folhas que agora se atropelam para fugir de um frio que se entranha. A descida é lenta, como se eu fosse uma escada, encaracolada no frio que exalo. Sou a cidade invernosa e anseio pelo verde primaveril. 

Em cada recanto, velhos atiram cartas em mesas improvisadas, cuspindo impropérios antigos, miúdos fingem que sabem crescer e fumam alcatrão empestado de promessas, mulheres encontram olhares que homens fingem não ser seus. A cidade, eu, tudo suporta, pisada, calejada, e perene. Esquecida e inesquecível. Contenho e sou contida em cada respiração dos passos que me dobram.
Da janela das avenidas vejo os cães mijar-me nas veias e os pássaros a devorar-me os dedos. Também a eles os suporto, nas suas passadas lentas e solitárias, ao frio que não faz e ao calor que nunca nos chega a aquecer.  

Chego ao fim da escada em caracol, os ferros dobram-se e dilatam-se à minha passagem. É o som fabril que se perdeu há décadas, e me faz recuar anos de cimento. Desço as pálpebras, preciso de dormir. Eu, que nunca durmo. Nunca dormi.