terça-feira, 26 de maio de 2009

Dez

Do Amor Sem Limites

Enquanto não superarmos
a ânsia do amor sem limites,
não podemos crescer
emocionalmente.

Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a buscar-nos em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.

(Fernando Pessoa)


E na mansidão do olhar, soube-o. Como se a página de um livro onde tudo está escrito se abrisse subitamente, soube-o. Como se o céu fosse legível a olho nu e as nuvens se formassem apenas para te dar sobra nos dias quentes. Como se o silêncio não doesse ou o olhar não se afastasse. Soube-o. Soube-te pela imponência da tua figura recortada fragilmente no horizonte, havias de ter ganho outra forma, fazes-te pequeno e esguio, insidioso e inocente. Soube-te, e guardei-te, sem tu saberes que nada será igual sem ti.

domingo, 24 de maio de 2009

Do peso

Se a noite é escura, o dia deveria ser brilhante. Ofuscar as mágoas que não tenho e as certezas que em mim trago. A claridade deveria jorrar em golfadas puras de mãos dadas. O ar deveria trazer consigo o cheiro a futuro e não a compasso estagnado.
O rosto deveria ser o meu, e não este que aqui desenho apenas com a ponta do indicador, contra a parede que já foi branca e agora ostenta as cicatrizes velhas do tempo que entretanto teima em passar. O tempo que celebramos e sorrimos, e o tempo que afasta as pontas de uma corda que atou o que o ar não esconde.
E no fundo do mar, onde a âncora repousa, não há paz. Apenas o som surdo e branco, que distorce o meu nome enquanto durmo (ou finjo que durmo), enrodilhada em mim e solta de mim.


(ninguém é quem queria ser)
(mas somos tanto)

domingo, 10 de maio de 2009

Transcontinental

O cansaço impõe-se. Tão somente o cansaço de pensar e mastigar cada palavra, de dedilhar cada som na antecâmara da voz. O corpo voa mas a alma fica em terra. Repousa. Ou tenta.