domingo, 29 de março de 2009

Tudo escorre

O tempo não me abraça, sufoca-me. A paciência perde-se, o sorriso esgota-se. Como pode algo que nos fez tanto sentido ficar reduzido a palavras desprovidas de qualquer cumplicidade? Assim se perde o que inimaginavelmente nos uniu.
Fica um vazio que não o chega a ser. O espaço que ocupaste cedeu, à força de tentarmos não levar a distância que nos impusemos demasiado a sério.
Não me apetece contar-te as novidades. Nem te sorrio ou desejo boa sorte, não te aceno enquanto o adeus se deixa estar suspenso no ar... e nada disto é novo ou velho, desejado ou evitado. Tudo escorre, sim, mas nem tudo se renova.

terça-feira, 24 de março de 2009

Para variar do negro...

the direction of the eye
so misleading
the defection of the soul
nauseously quick

I don't question
our existence
I just question
our modern needs

I will walk...with my hands bound
I will walk...with my face blood
I will walk...with my shadow flag
into your garden
garden of stone

after all is done
we're still alone
I won't be taken
yet I'll go...

I will walk...with my hands bound
I will walk...with my face blood
I will walk...with my shadow flag
into your garden
garden of stone

I don't show...
I don't share...
I don't need
what you have to give...

quinta-feira, 19 de março de 2009

Da linguagem do infinito ao abraço da terra

... sou ínfima para explicar estas palavras, mas foi por elas que me apeteceu trocar o "amo-te" dos dias. Invadiram-me, e eu permaneci nelas, contemplei-as, e ainda agora estou a tentar compreendê-las ...

sexta-feira, 13 de março de 2009

Vácuo

De repente as palavras atrapalharam-se e o silêncio empurra. Tento fechar-lhe as portas do meu corpo, mas a ausência é uma lutadora feroz, rasga-me a pele e esconde-se. Sei-a lá, mas não a consigo encontrar para expulsar para mim. Apetece-me esbofeteá-la, sacudi-la, exorcisá-la, mordê-la e arranhá-la.
Inerte, o corpo é apenas meu, e apenas o corpo é meu.

terça-feira, 10 de março de 2009

Dos rios

Estava à beira do Tejo, olhos postos nas águas que não serão as mesmas ao meu próximo olhar. Heráclito, ninguém se banha duas vezes na água do mesmo rio. A lei de Lavoisier no seu expoente máximo, nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma.
Nesse tempo, o da beira-rio, era um mar de risos que me ecoava na cabeça, a tentar ocultar uma dor da qual não tenho memória. Hoje, quando passo pelo rio, fecho os olhos para trazer esse momento aos confins da retina, vejo-o tão nitidamente como se viajasse no tempo.
É por isso que o amor nos transforma, é nisso que o amor nos transforma. Sem nos perdermos, não seremos os mesmos. Bebo o passado de um trago, aconchego-o no peito, e vejo-o mudar, cambiantes efémeros, enquanto dou a mão ao futuro.


Este sorriso não precisa de memória...

segunda-feira, 2 de março de 2009

A qualidade indefinível

Estende-se na areia da pele. Acende-se na mansidão da noite. Murmura-nos paz no turbilhão dos passeios que não damos por percorrer. Impregna-se nos gestos simples, cola-se ao rosto como se palpável fosse. E é.
Todos os dias foram corredores sombrios com luzes de néon antiquadas e gritantes. Todas as horas foram prévias ao acender do sol. Todas as notas se suspenderam até este suspiro. Nenhuma cegueira se desfez, nenhum frio se imolou, mas todas as manhãs nasceram em olhares.

(revisitar passeios
redescobrir momentos
e aconchegar memórias
bem no fundo
como se nascessemos
todos os dias)