Quando acaba a música e a dança se extingue, trémula e etérea, não restamos nós. Resta a tua amarga pressa de viver e a minha solitária vontade de metades. Hoje ficaste enquanto eu parti. O nó das horas solta-se e sobra pó. Não há nós. No fim de contas, estamos sempre sós... resguardados num abraço que apenas adia a fraqueza de não sermos mais. Nem capazes, nem maiores.
Rasgo a fúria na almofada. O corpo dorido, a alma encardida, e a parede nua. Se houvesse uma asa nesta pele, estaria também ela nua. Volto sempre ao casulo, cada vez mais opaco, cada vez mais escuro, cada vez mais meu. Só meu. E não havia muito para decifrar ou encontrar um antídoto. Caracol. Obscuridade. Sem sentido.