sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

supermassive black hole

Os corpos caem. É a lei. Matemática e física, puras, duras, concretas e abstractas, os corpos caem. Hoje não por gravidade, mas por cansaço. 
Enquanto me diluo no percurso, penso em ti. Em como guardas tantas páginas rasgadas dentro do baú. Em como volta e meia, as tiras cuidadosamente e as estendes com as palmas das mãos, apenas para ficares a olhar, como se te aquecessem o coração. Não entendo como te deixas surpreender pelo frio que faz nas entrelinhas. Estimas o passado como se fosse mais do que é: passado. Na ânsia do presente, quase que atiras a tampa do baú com tanta força que o som abafa qualquer pensamento. E é o eco da memória que te tira o cuidado no presente. O presente é apenas isso, também apenas isso: um momento. Dizem-te para decidir: fugir ou ficar, e tu ficas e vais, um dia no presente, umas horas no passado. E com isso pintas as páginas de sal que não entendes, de decisões que não são tuas, de carcereiros, de príncipes encantados, e nós, os espectadores, caímos. De cansaço. Chego a casa, e penso em ti. A espreitar pela janela e a fitar o tecto frio. Tanto ruído que o silêncio faz na tua cabeça. Tantos rostos que te olham colados no tecto. Menos o teu.

Sem comentários: